quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

AS PEÇAS DO XADREZ e seu simbolismo

Hoje em dia, em qualquer parte do mundo, notamos que as peças do jogo de Xadrez são semelhantes na aparência. Isto se deve ao fato de que, em 1924, a Federação Internacional de Xadrez – FIDE adotou, como padrão, o “modelo Staunton”, conjunto de peças popularizadas pelo enxadrista britânico Howard Staunton (1810-1874).

Vamos falar um pouco sobre cada uma delas e do seu simbolismo.


O Peão

A peça denominada Peão, “Pedone” em Italiano, “Peón” em Espanhol e “Pawn” em Inglês, é a menos valiosa e, isolada, a mais frágil do jogo de Xadrez. Seu significado, desde o primitivo Chaturanga até os dias atuais, sempre foi ligado ao combatente a pé, o soldado, a infantaria militar, a primeira linha de combate.

Movimenta-se sempre para a frente, sendo a única peça que não pode retroceder. Mas esta “coragem” é recompensada: ao atravessar todas as dificuldades do tabuleiro e chegar na oitava casa, o Peão é promovido, podendo se transformar em qualquer peça, exceto o Rei.

Seu simbolismo foi ampliado por volta do Século XIII, quando membros da Igreja, em escritos designados “Moralidades”, atribuíram aos peões as profissões comuns da época, traçando paralelos entre o Xadrez e a ética das atividades humanas, inclusive explicando a regra da promoção do peão como sendo a possibilidade de ascensão social através de um caminho virtuoso e reto. 

Logo, pode-se dizer que a alegoria do Peão sempre carregou aspectos de coragem e determinação, ao lado da simplicidade sócio-econômica passível de se transformar pelo trabalho perseverante.


O Cavalo

A peça denominada Cavalo, “Cavallo” em Italiano, “Caballo” em Espanhol e “Knight” em Inglês, a única que salta sobre as outras, tem o valor aproximado de três peões. A figura deste animal representa, desde tempos imemoriais, a cavalaria de um exército, embora no idioma inglês, desde a Idade Média, tenha designado apenas o cavaleiro.

Seu excêntrico movimento de passar por cima das outras peças, ao lado da característica de atacar sem poder ser atacado pela peça ameaçada, evocava não apenas a capacidade de superar os obstáculos, mas principalmente os atributos da aristocracia.

Atualmente o simbolismo desta peça do Xadrez, aplicado inclusive na Psicanálise, remete ao sonho e à fantasia, pois o Cavalo, ao saltar, parece voar sobre as outras peças.



A Torre

A peça denominada Torre, “Rocco” em Italiano, “Torre” em Espanhol e “Rook” em Inglês, dotada de movimentos unicamente retilíneos, equivale a cinco peões, dado o seu poderio de, sozinha, finalizar uma partida.

No Xadrez primitivo esta peça era um carro de guerra, mas, na Idade Média ganhou a aparência das torres dos castelos, talvez por causa das torres de cerco, uma estrutura com rodas usada na invasão de fortalezas.

O simbolismo marcante das Torres, da época medieval aos dias atuais, é a retidão, por se movimentarem sempre em linhas retas, na horizontal ou vertical.

As torres lembram elementos confiáveis porque, embora demorem a entrar em jogo, quando o fazem é para decidir. Lembram a sensatez e a prudência. Lembram homens justos. Lembram mentores.


O Bispo

A peça nominada Bispo, “Alfiere” em Italiano, “Alfil” em Espanhol e “Bishop” em Inglês, cujo valor aproximado é de três peões, tem seu movimento restrito a apenas 32 casas do tabuleiro (claras ou escuras), pois só se movimenta nas diagonais.

Esta peça, no início, representava o elefante de guerra. No entanto, na Europa medieval, mudou de nome e de formato por influência da Igreja. Surgiu então o bispo, mas curiosamente, em Espanhol, foi mantida uma alusão ao seu nome primitivo, pois Alfil significa “o Elefante”, em árabe.

Quanto ao simbolismo a peça Bispo remete ao lado religioso, mais propriamente no sentido da palavra latina “religare”, que significa “voltar a unir”, ou seja, atar os laços com o que se considera divino, reforçando a busca da dimensão espiritual.


A Dama (ou Rainha)

A Dama, assim denominada em Português e em Espanhol, “Donna” em Italiano, e “Queen” em Inglês, é a peça de maior mobilidade sobre o tabuleiro, movendo-se em linhas, colunas e diagonais. Seu valor aproximado é de nove peões. 

Mas essa peça, com todo esse poderio, não existia nos ancestrais do Xadrez. O lugar da Dama atual era ocupado por uma peça masculina, o Conselheiro do Rei.

Porém, na Europa medieval, a influência de Rainhas como Leonor da Aquitânia (1122-1204), que foi Rainha de França, e, depois, Rainha da Inglaterra, e Isabel de Castela (1451-1504), a Rainha Católica de Espanha, praticamente determinou a presença feminina no tabuleiro de Xadrez, substituindo exatamente “O Conselheiro”.

Já o simbolismo mais evidente da peça Dama (ou Rainha) é a presença feminina no tabuleiro, dantes ocupado por elementos masculinos e indicadores de atividades típicas da guerra.

Quanto ao simbolismo da Dama, sua capacidade de experimentar todas as casas do tabuleiro remete ao CONHECIMENTO do plano. Esse atributo se coloca em contraste com a representação do Rei, que é o PODER. E enseja uma profunda indagação: afinal do que vale Poder sem Conhecimento? Pode ser perigoso, pode ser cruel, pode ser efêmero...



O Rei

Em todos os idiomas, a peça que simboliza o Rei no jogo de Xadrez conservou o mesmo e original significado: o monarca, o soberano.

No antigo Chaturanga a peça representativa de quem conduzia o exército na guerra tinha o nome de “Rajá”, o monarca e comandante. Quando os persas assimilaram o jogo, modificaram o nome da peça principal para “Shah”, que é como designavam o potentado local. E, ao chegar à Europa, levado pelos árabes, o Xadrez teve o nome da peça “Shah” alterado para “Rei”, soberano presente na maioria das nações europeias.  

Sendo a peça mais importante, seu simbolismo evidente é o PODER. Mas, examinando as limitações dos seus movimentos (uma casa apenas, embora em qualquer direção) ficam evidenciadas as suas fragilidades. Depende das outras peças para se proteger e para vencer: sozinho está derrotado, vale dizer, o poder é efêmero.

Em outro ângulo, afirma-se que o Rei é a peça mais importante, porém a Dama é a mais poderosa. 

Contudo há o argumento de que ela poderá ser sacrificada para salvar o seu monarca. Nesta aparente contradição ressalta que o simbolismo da Dama é o CONHECIMENTO: seu sacrifício será sempre útil, pois será para a vitória do reino, e não do rei.