domingo, 15 de novembro de 2009

15 de Novembro de 1889 - 120 anos de República

Proclamação da República do Brasil

Lendo os jornais deste domingo e navegando em alguns websites, a sensação que senti foi que a data passou realmente em branco...

Parece-me que os assuntos republicanos em pauta nos jornais e no dia-a-dia do nosso povo são muito mais urgentes e importantes do que lembrarmos que um dia ela foi proclamada...

Temas de aparente extraordinária relevância estão na pauta de frenéticos e-mails repassados à exaustão e nos jornais mais respeitados do País, abrangendo uma gama de assuntos, tais como: Apagão, extradição, Honduras, Currículum Vitae de Candidatos à Presidencia da República, intrigas da oposição, visita de um Presidente estrangeiro, Pré-Sal, soberania sôbre a região Amazônia, papel das Forças Armadas, etc, etc... Realmente, todos assuntos de extraordinária relevância.

Quanto a preservar o conhecimento dos diversos aspectos e circunstâncias dos fatos de nossa história, parece-me que estamos em um processo de perda de memória ou de mudança de identidade.

Talvez em mais alguns anos teremos a surpresa, e o dissabor, de verificar que poderemos ter "perdido por completo o fio da meada", isto é, poderemos ter perdido as referências de nossas origens e história. Caso tal hipotética situação ocorra, será algo interessante e exótico, pois poderemos vir a nos transformar em herdeiros da República de São Bernardo..., ou refundadores da Pátria ou, ainda, tardios mas valentes e indômitos Bolivarianos... , ou, quem sabe, galhardamente demonstraremos nossa liderança regional ao substituirmos o vernáculo por outro mais coerente com as novas "tradições"... É um processo demorado, mas com persistência e tenacidade pode ser realizado com êxito. Depende exclusivamente das lideranças que ocupam as posições chave da nação.

Quanto à República, quais foram mesmo os motivos e justificativas para a sua "proclamação"?

Recuperando um pouco a memória a respeito deste, digamos, relativamente importante evento Pátrio, segue um link sobre o assunto.

CLIQUE AQUI

Como será que um movimento desta natureza seria recebido nos dias de hoje?

De qualquer modo, creio que devemos celebrar a data, certo? Então,...


... Salve a República do Brasil!

Cordialmente,


sábado, 7 de novembro de 2009

POEIRAS DE BRANCO











CONVITE

Alberto Sergio C. Pierro

APML – Cadeira No. 08



Romance, tendo um neurocirurgião em um grande Hospital como personagem central da história . Os casos relatados (casos clínicos) são verídicos, todo o resto é ficção.


Cocktail de lançamento do livro "Poeiras de Branco", próximo dia 23/11, às 19:30 hrs.

Local: Rua Eduardo Monteiro, em Santo André. (uma uma travessa da Av. Portugal, uma rua antes do Franz Café. maiores detalhes, por favor, contate o Ir. Pierro por e-mail

O Viralata










Sei que nunca fui poeta,
Muito menos escritor,
Mas pra contar essa história
Desse cão que conheci,
___ Tinha o corpo todo branco,
tinha o rabinho cotó,
na cabeça a mancha escura
que lhe cobria as orelhas___
Minha gente eu me arrisquei
A passar qualquer vexame
Pra deixar aqui gravada
A história do “Totó” !

O escarcéu era enorme
E maior ainda a sujeira.
O odor que exalava
Impregnava as narinas,
E a impressão era medonha.
Tudo era grande, era enorme,
Era no superlativo.
Tudo, menos o autor
Pois não é que o estardalhaço
Vinha de uma brincadeira
De um trigueiro viralatas.

Tinha o olhar matreiro,
Sobre as patinhas traseiras
Sentado, a abanar a cauda,
O cão se divertia ao ver
Tanta coisa ao seu redor
Pelo chão esparramada.
Desapontado, embora,
Pois que não encontrara
Uma coisa só que servisse
Pra saciar a sua fome...
Apenas lixo e sujeira.

Mas o seu olhar criança
Não se deixa apagar,
Que ainda tem esperança
De alguma coisa encontrar.
Uma pulga atrás da orelha
Atrevida a lhe coçar,
Uma ferida em sua pata
Que insiste em incomodar
Não são motivos para o cão
Na vida não acreditar,
E ainda se alegra a brincar.

Uma senhora que passa
Vendo a sujeira da rua
E o viralatas maroto
Ao lado, a se espreguiçar,
Não disfarça sua ira.
Numa explosão bem humana,
O nojento animal
Ela decide expulsar.
E o cão, pobre coitado
Sua área de folguedos
Se vê obrigado a mudar.

Descendo a rua, contente,
Um garoto de família
___ gente bem, da sociedade ___
Vem chutando uma latinha,
Despreocupado, a cantar,
E o cãozinho, esperançado,
Vê uma nova brincadeira,
Novo amigo a conquistar.
E lá vai ele, todo aceso,
Rápida a cauda abanando,
E a latinha vai buscar.

“Sai pra lá, seu viralatas,
Cão vadio e até sarnento,
Deixa em paz minha latinha
Que quero, sozinho, chutar.”
E o cãozinho, cabisbaixo,
Uma outra brincadeira
Decide-se a procurar.
Mas sua tristeza é fugaz,
De novo a cauda balança,
É que ele viu a criança
A latinha abandonar.

E lá se vai o maroto
Atrás da latinha outra vez.
Mas não é que o garoto
Fez aquilo de propósito
Só pra dar uma pedrada
No ousado viralatas
Que sua nobre brincadeira
Intentara interromper;
E o cãozinho, atordoado,
Com maltrato acostumado,
Vai-se embora avergonhado.


Mas sua ira passa logo
Que de novo o menino
Um gesto amigo lhe acena
Tendo ao lado um companheiro.
E lá se vai o cachorrinho
Iludido de que, agora,
O brinquedo é pra valer
Mal sabendo, no entanto,
Que a intenção dos meninos
Embora lhe acenassem,
Em nada tinham mudado

E o pobre cão viralatas
Virou o centro do mundo
Nessa infernal brincadeira;
Pois não é que lhe amarraram
À cauda aquela latinha
E ainda por cima acenderam
Assustadora bombinha
Da qual o forte estampido
Em meio às gargalhadas
Se misturou aos ganidos
Do apavorado cãozinho.

Em apressada carreira,
Lamentando sua sorte,
Desceu o animal a ladeira
Acabando por perder
Na corrida, a latinha;
Mas eis que, sem dó, o barbante
Que lhe amarraram na cauda
Os dois travessos meninos,
Sangrar a pele lhe fez,
Mas, bastaram umas lambidas,
Pra o assunto ele esquecer.

Alerta, de orelha em pé,
Ouve o grito de um moleque,
O barulho de uma bola,
E lá se vai o maroto
Co’a molecada brincar.
E a história se repete
Sendo, a bola, o viralatas,
Que a garotada sem dó
Não cansava de chutar,
Enquanto o pobre coitado
Lutava por escapar.



Cabisbaixo e dolorido
Decidiu, o viralatas,
Que brincar com a garotada
Não iria nunca mais,
Pois em toda brincadeira
Que se atrevera a entrar
Todo mundo se alegrava
E ria despreocupado,
Só ele é que não entendia
Onde estava, nisso, a graça
Que doído ele saía.

Já fizera um escarcéu
Naquela lata de lixo
E fora expulso da rua;
Correra atrás da latinha
E tivera a cauda a sangrar;
Sem falar no baita susto
Por causa da tal bombinha.
Todo doído e faminto,
Esquecer as brincadeiras
E tratar logo do almoço
Decide o alegre cãozinho.

Uma hora uma pedrada
Outra hora o “sai pra lá”,
E assim transcorria a vida
Daquele cão solitário
Que, apesar do que sofria,
Achava a vida alegre,
E valia ser vivida,
Pois sempre achava comida,
Sempre matara sua sede,
E um canto qualquer lhe servia
À noite, como guarida.

Olhar aceso e matreiro,
Uma lição de otimismo
Era a lida do cãozinho,
Uma verdadeira criança
A espalhar confiança
Na vida que se apresenta,
Sabendo quando esquecer
Os maltratos recebidos,
E também perdoar,
Mostrando que o amor
É o sentimento maior.



Que no amor se engloba a dor,
A alegria e a confiança,
A lembrança e o perdão,
E é, sobretudo, no amor
Que se alimenta a esperança,
A chama que nos faz crer
Que dias melhores virão,
Pois viver sem esperança,
Sem sonhos, sem amor,
É só passar pela vida
Sem realmente viver!

Essa era a filosofia
De um cão, errante e vadio,
E era bem superior
À de muita gente bem,
Que só reclama da vida
E constantemente se esquece:
De tudo que se recebe
Logo, o bem é esquecido
Só o mal é que é lembrado.
Justamente o contrário
Do que demonstrava o cãozinho.

Mas um dia, distraído,
O pobre viralatas
Ao fugir de uma pedrada,
Nas rodas de um caminhão
O seu fim ele encontrou.
Ninguém sentiu sua agonia,
Ao contrário, reclamavam
Do transtorno que causava
O animal ali no asfalto
Obrigando a desviar
Todo o trânsito da rua.

Mas o que ninguém sabia
É que o pobre animalzinho
Assustado com o alvoroço
Ali, no meio da rua,
Ainda assim não se queixava
Do triste fim que avizinhava;
Não chorava suas dores,
Não reclamava da vida,
Nem se assustava com a morte.
Até esquecera as pedradas
E a todos perdoava.



Mas o que naquela hora
O viralatas mais sentia
Era a falta de um amigo
Que lhe coçasse a cabeça,
Que lhe fizesse um afago,
Que o levasse pra bem perto
Da molecada da rua,
Que o cãozinho não queria
Ser estorvo pra ninguém,
Mormente naquela hora
Em que ele se despedia...

O que mais me comoveu
Foi ver o animalzinho
Que a vida só maltratou,
Sentindo a morte chegar,
Pra demonstrar que ainda amava
Ao mundo que o rejeitou,
Em um esforço supremo
Apesar do que sentia,
Sua cauda ele abanou
E assim permaneceu
Até que a morte o levou...

Sei que nunca fui poeta,
Muito menos escritor,
Mas pra contar essa história
Desse cão que conheci,
___ Tinha o corpo todo branco,
tinha o rabinho cotó,
na cabeça a mancha escura
que lhe cobria as orelhas___
Minha gente eu me arrisquei
A passar qualquer vexame
Pra deixar aqui gravada
A história do “Totó” !


Alberto Sergio C. Pierro

APML – Cadeira No. 08

Só por Brincadeira










Só por brincadeira,
Vou chegar sorrateiro
Assim como quem não quer nada,
Abraçando-te por trás
Sussurrando baixinho
Palavras de arrepiar

Só por brincadeira,
Minha mão atrevida
Assim como quem não quer nada
Se insinua por teus seios
Alisando de mansinho,
Toques de arrepiar

Só por brincadeira,
Minha boca sequiosa
Assim como quem não quer nada
Põe a língua maliciosa
A explorar-te a nuca
Úmida de arrepiar

Só por brincadeira
Minhas pernas serpenteiam
Assim como quem não quer nada
Por entre tuas pernas nuas
Se insinuam entreabrindo-as
Em promessas de arrepiar

Só por brincadeira
Minha roupa cai ao chão
Assim como quem não quer nada
Deslizando tuas roupas
Cobrindo-te com minha nudez
Em gozos de arrepiar



Alberto Sergio C. Pierro

APML – Cadeira No. 08




2004

A ESCADA














Alberto Sergio C. Pierro

APML – Cadeira No. 08


Os cabelos em desalinho pelo recente despertar

O corpo ainda mole, o gosto de guarda chuva

A incomodar-me a boca seca, os pés a arrastar

O velho chinelo de couro, custei a atender

O som conhecido da velha escada a ranger

As largas tábuas sob o peso de alguém.

Ritmicamente, os passos subiram

Cansados, vencendo a distancia e altura.

Antes mesmo de meus olhos verem,

Meu coração, em sobressaltos, sentiu

A meiga e doce presença dela.

A boca secou-me ainda mais

Os pelos se eriçaram estimulados

Pelas lembranças de dias atrás

Senti meu corpo enrijecer-se

Teso, de idéias pleno, ansioso

Como a antever horas de delírio

Luxúria, prazer carnal desenfreado

Louco e amoral, explosão e êxtase.


Seu perfume inundou-me os sentidos

Sua pernas esguias por Deus esculpidas

Terminaram a subida, e pude vê-la!

Ah! Divinal imagem, anjo e demônio,

Tempestade e calmaria,

Com que ardor me inebria o ser

Tomo-lhe as mãos – delicadas

Aperto-a contra mim – que corpo

Sinto-me crescer, explodir – tesão

Exploro o conhecido terreno

De seu corpo macio e quente – volúpia

Mais que tirar, arranco-lhe, as vestes

Em justificada pressa – anseio

Minha língua serpenteia-lhe a pele

Queimada e dourada pelo sol – verão

O gosto de mar e desejo se misturam


Ofegante atiro-a sobre os lençóis

E o resto que havia de suas vestes

Já não há mais, apenas ela e eu

Nossa nudez namora indiferente

Ao mundo, à lógica, à razão

Nossas mãos afoitas mergulham

Alisam, arranham, apertam

Cada parte, cada lado, cada profundidade

Ah! Cada profundidade, reentrância

Relevo, pelo, bico, pele, nuca

Nada escapa àquela exploração

Louca, ávida, sequiosa e apressada

Seu peso é leve sobre o meu

Meu corpo é pecado sobre o seu

Meus olhos se divertem com os dela

Enquanto minhas mãos passeiam donas

Daquele corpo que se contorce

Cada curva, monte, o que seja

É cuidadosamente acariciado

Prolongando o prazer, adiando o êxtase

Suas pernas se afastam facilitando

E meus dedos não se fazem de rogado

Alisam, entram, saem, tornam a entrar

Molhados já de luxúria e prazer


Seu corpo se vira e me inebrio

Ante aquela milagrosa visão

Poço de virtudes e de pecado

Angelical formosura que molha

Escultural pecado que seca

Até o não poder mais

Sinto-me explorado, felinas

Mãos que me percorrem

Nas mais íntimas partes

Cresço, subo, molho, gemo

Sem medo, sem vergonha, teso

A língua úmida passeia

Explora, molha, engole, serpenteia

Segura, judia, pune, premia

Morde, beija, pede, foge!


E chave que é carne procura

A fechadura que é gruta

E entra, e abre, e gira, e queima

E é loucura na lucidez

É reza no pecado

É sede no mar, é vento

Na pradaria, é onda na praia

Que vai e vem, e torna a voltar

Recua e investe, seca e molha

Até não ser mais que exaustão

Respirar ofegante, lassidão

Suor desgrenhado, sexo saciado

Pernas soltas, seios molhados

Licor derramado, arfando

Pedindo perdão e querendo de novo!


A água que escorre na nudez

A espuma que alaga o chão

Retira a esperança que era tanta

Perfuma a pressa que é pouca

A seda que cobre a pintura

Faz sumir a escultura

Até a escada cantar novamente

Levando tanto de mim

Restando só a saudade

E a esperança de novamente

Ouvir as largas tábuas

Gemerem sob o peso de alguém

E como nova aurora que chega

Começar tudo de novo

Até a escada vencer em por de sol













O novo livro de poesias do Ir. Pierro,


"Flamboyant"


já na editora, deverá ser lançado em meados de maio de 2010.