Alberto Sergio C. Pierro
APML – Cadeira No. 08
Os cabelos em desalinho pelo recente despertar
O corpo ainda mole, o gosto de guarda chuva
A incomodar-me a boca seca, os pés a arrastar
O velho chinelo de couro, custei a atender
O som conhecido da velha escada a ranger
As largas tábuas sob o peso de alguém.
Ritmicamente, os passos subiram
Cansados, vencendo a distancia e altura.
Antes mesmo de meus olhos verem,
Meu coração, em sobressaltos, sentiu
A meiga e doce presença dela.
A boca secou-me ainda mais
Os pelos se eriçaram estimulados
Pelas lembranças de dias atrás
Senti meu corpo enrijecer-se
Teso, de idéias pleno, ansioso
Como a antever horas de delírio
Luxúria, prazer carnal desenfreado
Louco e amoral, explosão e êxtase.
Seu perfume inundou-me os sentidos
Sua pernas esguias por Deus esculpidas
Terminaram a subida, e pude vê-la!
Ah! Divinal imagem, anjo e demônio,
Tempestade e calmaria,
Com que ardor me inebria o ser
Tomo-lhe as mãos – delicadas
Aperto-a contra mim – que corpo
Sinto-me crescer, explodir – tesão
Exploro o conhecido terreno
De seu corpo macio e quente – volúpia
Mais que tirar, arranco-lhe, as vestes
Em justificada pressa – anseio
Minha língua serpenteia-lhe a pele
Queimada e dourada pelo sol – verão
O gosto de mar e desejo se misturam
Ofegante atiro-a sobre os lençóis
E o resto que havia de suas vestes
Já não há mais, apenas ela e eu
Nossa nudez namora indiferente
Ao mundo, à lógica, à razão
Nossas mãos afoitas mergulham
Alisam, arranham, apertam
Cada parte, cada lado, cada profundidade
Ah! Cada profundidade, reentrância
Relevo, pelo, bico, pele, nuca
Nada escapa àquela exploração
Louca, ávida, sequiosa e apressada
Seu peso é leve sobre o meu
Meu corpo é pecado sobre o seu
Meus olhos se divertem com os dela
Enquanto minhas mãos passeiam donas
Daquele corpo que se contorce
Cada curva, monte, o que seja
É cuidadosamente acariciado
Prolongando o prazer, adiando o êxtase
Suas pernas se afastam facilitando
E meus dedos não se fazem de rogado
Alisam, entram, saem, tornam a entrar
Molhados já de luxúria e prazer
Seu corpo se vira e me inebrio
Ante aquela milagrosa visão
Poço de virtudes e de pecado
Angelical formosura que molha
Escultural pecado que seca
Até o não poder mais
Sinto-me explorado, felinas
Mãos que me percorrem
Nas mais íntimas partes
Cresço, subo, molho, gemo
Sem medo, sem vergonha, teso
A língua úmida passeia
Explora, molha, engole, serpenteia
Segura, judia, pune, premia
Morde, beija, pede, foge!
E chave que é carne procura
A fechadura que é gruta
E entra, e abre, e gira, e queima
E é loucura na lucidez
É reza no pecado
É sede no mar, é vento
Na pradaria, é onda na praia
Que vai e vem, e torna a voltar
Recua e investe, seca e molha
Até não ser mais que exaustão
Respirar ofegante, lassidão
Suor desgrenhado, sexo saciado
Pernas soltas, seios molhados
Licor derramado, arfando
Pedindo perdão e querendo de novo!
A água que escorre na nudez
A espuma que alaga o chão
Retira a esperança que era tanta
Perfuma a pressa que é pouca
A seda que cobre a pintura
Faz sumir a escultura
Até a escada cantar novamente
Levando tanto de mim
Restando só a saudade
E a esperança de novamente
Ouvir as largas tábuas
Gemerem sob o peso de alguém
E como nova aurora que chega
Começar tudo de novo
Até a escada vencer em por de sol
O novo livro de poesias do Ir. Pierro,
"Flamboyant"
já na editora, deverá ser lançado em meados de maio de 2010.
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