sábado, 7 de novembro de 2009

A ESCADA














Alberto Sergio C. Pierro

APML – Cadeira No. 08


Os cabelos em desalinho pelo recente despertar

O corpo ainda mole, o gosto de guarda chuva

A incomodar-me a boca seca, os pés a arrastar

O velho chinelo de couro, custei a atender

O som conhecido da velha escada a ranger

As largas tábuas sob o peso de alguém.

Ritmicamente, os passos subiram

Cansados, vencendo a distancia e altura.

Antes mesmo de meus olhos verem,

Meu coração, em sobressaltos, sentiu

A meiga e doce presença dela.

A boca secou-me ainda mais

Os pelos se eriçaram estimulados

Pelas lembranças de dias atrás

Senti meu corpo enrijecer-se

Teso, de idéias pleno, ansioso

Como a antever horas de delírio

Luxúria, prazer carnal desenfreado

Louco e amoral, explosão e êxtase.


Seu perfume inundou-me os sentidos

Sua pernas esguias por Deus esculpidas

Terminaram a subida, e pude vê-la!

Ah! Divinal imagem, anjo e demônio,

Tempestade e calmaria,

Com que ardor me inebria o ser

Tomo-lhe as mãos – delicadas

Aperto-a contra mim – que corpo

Sinto-me crescer, explodir – tesão

Exploro o conhecido terreno

De seu corpo macio e quente – volúpia

Mais que tirar, arranco-lhe, as vestes

Em justificada pressa – anseio

Minha língua serpenteia-lhe a pele

Queimada e dourada pelo sol – verão

O gosto de mar e desejo se misturam


Ofegante atiro-a sobre os lençóis

E o resto que havia de suas vestes

Já não há mais, apenas ela e eu

Nossa nudez namora indiferente

Ao mundo, à lógica, à razão

Nossas mãos afoitas mergulham

Alisam, arranham, apertam

Cada parte, cada lado, cada profundidade

Ah! Cada profundidade, reentrância

Relevo, pelo, bico, pele, nuca

Nada escapa àquela exploração

Louca, ávida, sequiosa e apressada

Seu peso é leve sobre o meu

Meu corpo é pecado sobre o seu

Meus olhos se divertem com os dela

Enquanto minhas mãos passeiam donas

Daquele corpo que se contorce

Cada curva, monte, o que seja

É cuidadosamente acariciado

Prolongando o prazer, adiando o êxtase

Suas pernas se afastam facilitando

E meus dedos não se fazem de rogado

Alisam, entram, saem, tornam a entrar

Molhados já de luxúria e prazer


Seu corpo se vira e me inebrio

Ante aquela milagrosa visão

Poço de virtudes e de pecado

Angelical formosura que molha

Escultural pecado que seca

Até o não poder mais

Sinto-me explorado, felinas

Mãos que me percorrem

Nas mais íntimas partes

Cresço, subo, molho, gemo

Sem medo, sem vergonha, teso

A língua úmida passeia

Explora, molha, engole, serpenteia

Segura, judia, pune, premia

Morde, beija, pede, foge!


E chave que é carne procura

A fechadura que é gruta

E entra, e abre, e gira, e queima

E é loucura na lucidez

É reza no pecado

É sede no mar, é vento

Na pradaria, é onda na praia

Que vai e vem, e torna a voltar

Recua e investe, seca e molha

Até não ser mais que exaustão

Respirar ofegante, lassidão

Suor desgrenhado, sexo saciado

Pernas soltas, seios molhados

Licor derramado, arfando

Pedindo perdão e querendo de novo!


A água que escorre na nudez

A espuma que alaga o chão

Retira a esperança que era tanta

Perfuma a pressa que é pouca

A seda que cobre a pintura

Faz sumir a escultura

Até a escada cantar novamente

Levando tanto de mim

Restando só a saudade

E a esperança de novamente

Ouvir as largas tábuas

Gemerem sob o peso de alguém

E como nova aurora que chega

Começar tudo de novo

Até a escada vencer em por de sol













O novo livro de poesias do Ir. Pierro,


"Flamboyant"


já na editora, deverá ser lançado em meados de maio de 2010.


 

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