domingo, 22 de setembro de 2024

O BOY DA BARRA MANSA

Por Antonino Camelier

CAPÍTULO PRIMEIRO

Sou o mais velho de dez irmãos e, neste episódio, vou destacar o Alberto, o filho número cinco na ordem fraterna, quando morávamos no Planalto Paulista, bairro próximo a Moema, em São Paulo...

Alberto Camelier é um homem bem-sucedido, metódico, íntegro, prudente, Advogado e Administrador, Mestre e Doutor em Direito, autor de vários livros sobre Propriedade Intelectual e que atribui boa parte das suas conquistas às lições de vida que o Xadrez lhe proporcionou.

Mas vamos à história!

Em janeiro de 1968, um amigo de infância, o José Alves, apelidado Zofo, adentrou nossa residência para nos mostrar o que ele havia ganho no Natal: um tabuleiro, uma caixa com as peças do jogo e o livro “Xadrez Básico”, de autoria de Orfeu D’Agostini.

 Nenhum de nós sabia jogar Xadrez, nem eu, com 17 anos, nem Alberto e José Alves, ambos com 11 anos de idade. Mas começamos a aprender naquele dia mesmo, folheando o livro, montando as peças e ensaiando os primeiros movimentos.

O fato é que Alberto e Zofo elegeram o Xadrez como principal passatempo, e, em decorrência, foram evoluindo gradativamente nas técnicas do jogo.

Mas o salto no aprimoramento surgiu como que por acaso. Os dois tiveram a ideia de conhecer, em 1970, o famoso Clube de Xadrez São Paulo, o primeiro e mais importante do país. O ingresso nos salões de jogos era franqueado apenas aos sócios, mas o porteiro, acreditando que os garotos eram filhos de associados, deixava-os entrar.

Assim, Alberto e Zofo passaram a frequentar o CXSP praticamente todo sábado e domingo, em horário integral, e o porteiro continuava sem exigir que mostrassem a carteira de sócio, mormente depois de ter ganho, dos meninos, no dia do seu aniversário, uma caixa de lenços “Presidente”. 

Jogando com oponentes de várias idades e experiência superior, Alberto e Zofo foram desenvolvendo os fundamentos do jogo, até que um dia, mais de um ano depois, um Conselheiro do Clube pediu os nomes dos dois para inscrevê-los no Torneio Juvenil, pois considerava-os extremamente promissores: foi a senha para que sumissem do CXSP...


CAPÍTULO SEGUNDO

Alberto foi o primeiro de todos os irmãos a tirar a Carteira de Trabalho e, aos 15 anos de idade, foi o primeiro da família a procurar um emprego, não por necessidade, pois o nosso pai, apesar da numerosa prole, conseguia sustentar a todos. Mas o Alberto almejava alguma independência financeira e, com certeza, esse espírito de iniciativa nasceu das lides enxadrísticas desde a infância.

Em 1972, tendo finalizado o Ginásio e cursando a 1ª Série do Colegial à noite, ficou interessado com um anúncio que nossa mãe encontrara num “Estadão” de domingo:

Siderúrgica Barra Mansa S.A., empresa do grupo Votorantim, abre seleção para o cargo de “Office-Boy”. Requisitos: saber ler e escrever, primário completo. Não é necessária experiência anterior. Apresentar-se para seleção no dia 20 de abril às 8:00h na Praça Ramos de Azevedo, 254 - 4º andar.

A função de office-boy era justamente a que buscava, pois, na época, era o cargo inicial para qualquer novato.

Na data estipulada dezenas de rapazes se apresentaram para concorrer ao emprego. Após as provas de Português, Matemática e redação, todas eliminatórias, seguiu-se uma entrevista com os cinco aprovados. Porém havia uma única vaga e o Alberto foi o selecionado.

No primeiro dia de trabalho Alberto foi recepcionado pelo boy anterior, que havia sido promovido a Auxiliar de Escritório. Ele, além de mostrar as instalações do prédio-sede do Grupo Votorantim, que, então, contava com 27 empresas, incluindo a Siderúrgica Barra Mansa, explicou os diversos afazeres a cumprir, ressaltando, todavia, uma tarefa que nenhum office-boy gostava de executar: servir café, em dois períodos, para cerca de oitenta pessoas.

O setor em que Alberto iria trabalhar chamava-se “Expedição” e contava com cinco pessoas: o chefe do setor e quatro boys, cujas idades variavam entre 15 e 17 anos.

O “chefe dos boys” chamava-se Oduvaldo. Era um sujeito “quarentão”, descendente de portugueses, de semblante fechado, estatura mediana, voz grave e que tinha  apenas o primário completo.  À frente do Setor de Expedição há vários anos, o que se dizia é que ele também havia sido boy e que fora promovido tão somente pela indicação do antigo chefe que se aposentou.

Oduvaldo era o típico chefe que se impunha pelo autoritarismo e rudeza de tratamento. Um dos seus comportamentos estranhos e desagradáveis era o de chamar todos os seus subordinados de “Chiquinho”.

Contudo, quando ele, pela primeira vez, se dirigiu ao Alberto dessa forma, recebeu uma resposta altiva:

— Perdão, mas o meu nome é Alberto!

— Para mim é “Chiquinho” e estamos conversados! – devolveu o arrogante.

Alberto não replicou, mas percebeu, na hora, que a sua singela ousadia perante aquele superior hierárquico teria um preço alto.


CAPÍTULO TERCEIRO

As atividades dos boys implicavam um verdadeiro corre-corre: levar e trazer correspondências e encomendas, ir ao Correio, plastificar documentos, tirar fotocópias, e ainda realizar uma vasta gama de pequenos serviços para a Diretoria e as diversas Gerências. 

Mas tudo isso era coordenado pelo Oduvaldo, o “chefe dos boys”, que, tudo indicava, parecia sentir prazer em notar as dificuldades dos rapazes para cumprir as suas ordens. E mais: exigia submissão, não tolerando queixas, nem sequer expressões faciais de descontentamento.

E, quando algum dos meninos se insurgia, o castigo que Oduvaldo costumava aplicar era designá-lo para servir café. 

Esta “punição”, no entendimento dos boys, era dolorosa por duas razões, uma física e outra moral. Física, porque extenuante: consumia manhã e tarde servindo café para dezenas de funcionários, reabastecendo constantemente o bule na copa de apoio e ainda tendo de recolher as xícaras utilizadas. Moral, porque se sentiam envergonhados e humilhados em fazer um trabalho que consideravam coisa de “mulher”, e não de ”boy”.

Para intimidar o Alberto, que se revelou independente logo de início, Oduvaldo reservou-lhe, como primeira incumbência na Siderúrgica Barra Mansa, o encargo tido como o mais ingrato: servir café!

Porém, mesmo percebendo o ultraje por trás do labor, o Alberto não se abalou. Decidiu aproveitar as oportunidades que a atribulação poderia lhe proporcionar e logo as encontrou: a possibilidade de conhecer pessoas dos diversos departamentos e da própria Diretoria, e com elas poder conversar, chamando-as pelo nome.

Para distribuir o café, Alberto empurrava um ”trolley”, ou seja, um carrinho com três prateleiras contendo uma grande quantidade de xícaras com pires de vidro âmbar, marca “Duralex”, além de um grande bule de alumínio.

As rodas do carrinho não rangiam, pois eram constantemente lubrificadas, mas não havia como impedir o barulho das xícaras batendo umas nas outras: era este o som que antecedia a chegada do café nos variados setores da empresa, sempre causando um agradável alvoroço entre os empregados. E Alberto a todos servia, com um sorriso e palavras amenas.

Uma semana passou, e Oduvaldo, constatando que servir café não tirara o Alberto do prumo, decidiu espezinhá-lo em outra missão.

As correspondências e encomendas eram recepcionadas no Setor de Expedição, cabendo ao chefe do setor fazer a triagem e coordenar, com os boys, as entregas aos respectivos destinatários.

Alberto, de pronto, notou como Oduvaldo agia, invariavelmente: ele passava um certo volume de entregas para o boy encarregado, indicando, com desnecessária rapidez, os nomes dos destinatários, omitindo os respectivos departamentos. Ele dizia: “esta é para o Perreps, aquela para o Morato, aquela outra para o Renato...” e assim por diante.

Diante de tanta informação transmitida num torvelinho, era natural o boy se perder e perguntar para onde deveria seguir determinada carta. Era o que Oduvaldo aguardava: ele explodia com adjetivos desagradáveis para cima do infeliz, que recebia, acabrunhado, uma injusta e massacrante bronca.

Alberto acompanhou um desses maltratados boys para “aprender”, pois, no dia seguinte, seria a vez dele. Quando isso ocorreu, Oduvaldo até parecia um locutor de leilão de gado, tal o atropelo das palavras para indicar os destinatários. Como Alberto recebeu todas as correspondências sem nada indagar, ele, visivelmente irritado perguntou:

— Você entendeu para onde devem ir estas cartas?

— Sim! – respondeu Alberto laconicamente. 

Na verdade Alberto não fazia a menor ideia para quem entregar a maioria daquelas cartas. Sua resposta afirmativa fora tão somente uma estratégia para deixar Oduvaldo com a “bronca” presa na garganta. 

Como ele já tinha pavimentado uma boa camaradagem com pessoas dos diversos departamentos, bastou perguntar que destinatários eram aqueles:  com as esclarecedoras respostas obtidas, todas as cartas foram entregues sem problemas.

Oduvaldo não se conformou com a missão cumprida, e fez Alberto voltar a servir café...


CAPÍTULO QUARTO

Naquela época o horário do expediente era das 8:00h às 18:00h, com duas horas de intervalo para almoço e descanso. 

Todos os empregados, com exceção da Diretoria e daqueles com os maiores salários, almoçavam no primeiro subsolo do prédio, um amplo espaço que congregava mesas e cadeiras, além dos equipamentos para esquentar as marmitas dos trabalhadores das 27 empresas do Grupo Votorantim.

Era muito comum os funcionários almoçarem rapidamente e dedicarem quase uma hora e meia para descansar, ler ou jogar dominó e cartas.

Alberto notou, logo na primeira semana de trabalho, que havia um homem de meia idade que jogava Xadrez sozinho, num canto do salão, segurando um livreto, provavelmente reproduzindo alguma partida famosa.

Corria o ano de 1972 e o Xadrez ainda era um jogo desconhecido pela maioria da população, apesar da proeza realizada, naquele período, pelo enxadrista Henrique da Costa Mecking, apelidado “Mequinho”, que alcançou o título de Grande Mestre Internacional, sendo o primeiro brasileiro a conquistar tal honraria.

Alberto perguntou, para algumas pessoas, quem era aquele solitário jogador de Xadrez. Soube, então, que ele agia dessa forma porque não tinha mais adversários: ganhou de todos e ninguém mais se arriscava a perder novamente. 

Aquele homem soturno chamava-se Laszlo, era um engenheiro-consultor proveniente da Hungria, uma das repúblicas soviéticas de então. Na semana seguinte, Alberto se encheu de coragem, dele se aproximou, se apresentou e indagou:

— O Senhor se dispõe a jogar uma partida comigo?

Laszlo levantou o olhar, mediu Alberto de cima a baixo e perquiriu, com um sotaque forte e gutural:

— Tem certeza de que sabe jogar, garoto?

Alberto meneou  cabeça afirmativamente, mas sentiu que precisava manter o excesso de confiança que o húngaro exalava. Sentou-se diante do tabuleiro,  e, após o sorteio para definir quem iniciaria, começou a arrumar as peças negras, trocando deliberadamente a posição dos bispos com a dos cavalos. 

Laszlo, com desdém, reclamou:

— Como você sabe jogar se não sabe nem arrumar direito as peças! – e corrigiu as posições rosnando algo ininteligível.

Iniciaram a partida. Aos poucos, uma pequena multidão foi cercando a mesa onde os dois enxadristas se digladiavam. Mas certamente a soberba contagiou o húngaro, pois ele cometeu um erro fatal, que o Alberto não perdoou e venceu o jogo de forma categórica. 

Laszlo cumprimentou o vencedor e saiu, ao som dos burburinhos que foi se alastrando para virar notícia ecoando no prédio todo: “O ‘boy’ da Barra Mansa ganhou do Laszlo!”.

E foi assim que o Alberto ficou conhecido como “O boy da Barra Mansa”.


CAPÍTULO QUINTO

Laszlo, o húngaro campeão de Xadrez da sede da Votorantim, pouco depois da sua derrota para o ”boy da Barra Mansa” foi transferido para a filial do Grupo em Buenos Aires. 

Alberto, assim, passou a ocupar o título informalmente, sendo saudado por onde passava e por todos aqueles que, por alguma razão, se dirigiam ao Setor de Expedição. Nestas ocasiões, inclusive, Oduvaldo, o "chefe dos boys", costumava ser ignorado, e tal circunstância passou a incomodá-lo profundamente.

Não demorou muito e Alberto decidiu ocupar uma hora do seu intervalo de almoço, duas vezes por semana, para fazer um curso de datilografia, algo indispensável, naqueles tempos, para quem tencionava progredir no emprego. 

Nos demais dias se dedicava, no refeitório, a ensinar pormenores do jogo aos seus colegas de trabalho, ou, por vezes sozinho, fazia como o Laszlo: reproduzia partidas dos Grandes Mestres, apreciando, como quem observa obras de arte, as belezas escondidas no Xadrez.

Um mês no emprego ainda não havia se passado quando, no corredor, na faina de servir café, Alberto foi abordado pelo Doutor Virgílio, um dos auditores do Grupo Votorantim, pessoa simpática de uns trinta e poucos anos de idade, que foi logo dizendo:

— Alberto, soube que você é o “Mequinho” da Barra Mansa. Desafio você para uma partida, mas vou logo avisando: vou lhe dar uma surra!

O boy recebeu de bom grado a divertida provocação, ficou lisonjeado, mas uma dúvida ocupou a sua mente: o Doutor Virgílio gostaria de jogar no refeitório ou seria em algum outro lugar, “mais nobre”? Ao indagar  a respeito, recebeu uma resposta objetiva do Auditor:

— No refeitório! Só me diga, por gentileza, o horário em que você costuma terminar de almoçar!

No dia e hora combinados, o Doutor Virgílio desceu as escadas para o refeitório e lá encontrou o Alberto já diante do tabuleiro arrumado para iniciar a partida de Xadrez.

Sorteado com as peças brancas, o Auditor começou o jogo revelando claramente uma linha de ataque bem agressiva. Alberto pautou-se pelos lances conservadores e, enquanto aguardava cada movimento do oponente, notou que mais e mais funcionários se aglomeravam tentando assistir à peleja. 

Aquelas pessoas, na sua maioria, sequer entendiam o jogo, mas, por curiosidade e pelo ineditismo de ver um Auditor duelar com um boy, acompanhavam com vivo interesse.

A partida seguia seu ritmo, com o Auditor fustigando e Alberto preparando uma armadilha de contra-ataque. Em dado momento, o boy anunciou xeque-mate em dois lances. O Doutor Virgílio examinou a posição, balançou a cabeça afirmativamente, derrubou o seu Rei e levantou-se erguendo a mão do vencedor, gesto que fez com que todos aplaudissem freneticamente.

Em meio ao alarido, todavia, Alberto não percebeu que o “chefe dos boys” observava tudo à distância, em silêncio, mas visivelmente contrariado.

Mas o que importa assinalar é que, desde a sua derrota, o Doutor Virgílio, revelando gentileza e sensibilidade, contribuiu para aumentar o prestígio do Alberto, mormente nos escalões superiores da Votorantim, dizendo que o ”boy da Barra Mansa” era um verdadeiro ”Mequinho” e que dificilmente seria derrotado.

Já em sentido contrário, Oduvaldo, mordido pelos ciúmes, resolveu aumentar a carga punitiva sobre o Alberto, cumulando a tarefa de servir café com a entrega das encomendas mais pesadas nos locais mais distantes...


CAPÍTULO SEXTO

Os boys não serviam café para os Diretores. Nesse caso, as Secretárias transpunham o café para bules elegantes e, adentrando as salas dos respectivos Executivos, elas próprias serviam o café em xícaras de porcelana.

O ”boy da Barra Mansa” ainda não havia completado dois meses de firma, quando, certo dia, ao repassar o café para a Dona Helga, uma jovem de descendência alemã, alta, de belos olhos azuis, secretária bilíngue do Diretor da Auditoria, ela disse:

 — Alberto, aguarde que o Doutor Floripes quer falar com você!

O boy, ao ouvir aquilo, sentiu um frio lhe percorrer a espinha e, na sequência, percebeu que estava tremendo. Então, enquanto esperava, procurou se acalmar respirando profundamente, como aprendeu, no Clube de Xadrez, nos momentos de ansiedade antes de enfrentar adversários sabidamente mais fortes.

Alberto já tinha ouvido, nos corredores da empresa, menções temerosas ao time da Auditoria. E ficou se perguntando a razão daquilo.

É um fato que as pessoas têm medo da auditoria, por vezes sem uma razão palpável. Mas, realmente, os auditores costumam ser vistos com receio, e uma certa rejeição, porque a missão deles consiste em informar, aos superiores do auditado, as falhas encontradas. Ora, ninguém gosta de ser fiscalizado, e pior, de ter seus erros expostos aos seus superiores.

É fato, também, que “medo” e “poder” andam lado a lado; se as pessoas sentem medo de alguém é porque esse alguém exerce um certo poder sobre elas. Com efeito, muitos auditores, lamentavelmente, gostam de criar o terror para que seu poder seja exercido. Mas o bom profissional consegue se mostrar simpático e compreensivo, obtendo até melhores resultados no seu mister.

Subitamente Alberto teve seus pensamentos interrompidos pela voz de Helga, que o convidava a entrar na sala do temido Diretor da Auditoria.

O Doutor Floripes era um senhor aparentando uns 65 anos. O boy esperava encontrar um rosto carrancudo e um dedo acusador, mas, ao contrário, foi recebido com um sorriso afável e uma pergunta surpreendente:

— Alberto, soube pelo Virgílio que você é muito bom no Xadrez. Eu estudo e gosto muito deste jogo! E fiquei curioso em te conhecer. Poderíamos disputar uma partida?

O boy, ainda um pouco trêmulo, anuiu com a cabeça e indagou:

— Seria aqui no seu gabinete, Doutor, após o expediente?

— Não, será lá no refeitório. A que horas você termina de almoçar?

Alberto não esperava por uma resposta como aquela. De todo modo, os futuros contendores marcaram data e hora.

Mas, sabe-se lá como, a notícia se espalhou como rastilho de pólvora aceso: “o boy da Barra Mansa vai jogar com o Diretor da Auditoria”!

No dia designado, quando Alberto chegou para o trabalho, foi logo interpelado, grosseiramente, pelo sinistro “chefe dos boys”:

— Chiquinho, quem mandou você desafiar o Floripes? 

— Bom dia Senhor Oduvaldo! Eu não desafiei o Doutor Floripes! Pelo contrário, foi ele quem me convidou a jogar e eu aceitei. Há algum problema nisso? 

— Você vai ver, vai ver, seu moleque... – respondeu Oduvaldo, grunhindo e dando as costas.

Antes do evento, incomodado com a recente conversa com seu chefe, e também inquieto pela expectativa do jogo, Alberto nem conseguiu almoçar direito. 

Dirigiu-se para o seu canto habitual e ficou surpreso ao verificar que diversos funcionários estavam centralizando, no salão, a posição de duas cadeiras e uma mesa com um vistoso tabuleiro em cima, e mais, chamavam-no para lá se sentar: era o resultado das notícias de um torneio de arte, cálculo e fantasia.

Alberto agradeceu, ainda um pouco confuso. O dia não era quente, mais ele, ansioso que estava, sentia um calor tremendo e um curioso suor frio nas mãos. Sentou-se e, para aguardar o horário, ficou relendo alguns trechos do clássico livro Xadrez Básico, de Orfeu D’Agostini. Mas percebeu que muitas pessoas estavam se posicionando em pé, próximo dele...

O refeitório abrigava simultaneamente cerca de 400 pessoas. O barulho feito pelos pratos e talheres se entrechocando e pelas pessoas conversando era alto. Porém, no horário previsto, quando o Doutor Floripes desceu as escadas de acesso ao salão, fez-se um silêncio sepulcral.

O Diretor da Auditoria rapidamente localizou a arena do jogo e foi respeitosamente cumprimentado pelo Alberto. Após o sorteio da cor das peças, mas antes de começar o embate, uma verdadeira multidão foi se aglomerando ao redor da mesa, querendo ver o inusual espetáculo.

O Doutor Floripes iniciou a partida com a chamada ”Abertura Italiana”, que, em apenas três movimentos, permite que o jogador com as peças brancas consiga instalar uma forte posição no centro do tabuleiro. 

Alberto utilizou a clássica ”Defesa dos Dois Cavalos”. Isto porém ensejou o que seu adversário certamente pretendia, ou seja, disparar o terrível ”Ataque Fegatello”, em que as brancas sacrificam um cavalo para deixar o monarca adversário em situação precária, exigindo do jogador das negras respostas precisas e arte na defesa.

O nome ”Fegatello” vem do italiano ”fegato”, que quer dizer “fígado”. Esse ataque, comparativamente e por assim dizer, visaria ao ponto mais vital  do inimigo — o fígado, pois, na época do Renascimento, quando mestres de Xadrez desenvolveram o mencionado “ataque”, aquele órgão era considerado o mais sensível do corpo humano.

Felizmente Alberto já sabia como refutar o agressivo ”Ataque Fegatello”, e, pacientemente, foi construindo seu contra jogo. Passaram-se muitos minutos e, ao notar que se encontrava enredado numa trama de xeque-mate, o Doutor Floripes, elegantemente, derrubou o seu Rei no tabuleiro, ergueu-se, levantou a mão do Alberto e o abraçou paternalmente.

Como que numa explosão, o silêncio foi entusiasticamente quebrado, com os numerosos expectadores batendo palmas, assobiando e entoando interjeições de louvor. 

Contudo, depois desse episódio, as relações entre o ”boy da Barra Mansa” e o Oduvaldo, azedaram de vez...


EPÍLOGO

No dia seguinte à chamativa disputa com o Diretor da Auditoria, Alberto chegou mais cedo do que de costume ao trabalho, e, enquanto se dirigia para o Setor de Expedição, as palavras ditas pelo Oduvaldo, na véspera, ainda martelavam, inquietantes, os seus pensamentos: “você vai ver, seu moleque...”

Seus presságios, que já não eram animadores, se confirmaram ao adentrar o recinto: dois boys, ao verem-no, cochicharam entre si e, quando se aproximaram do Alberto para revelar algo, preferiram debandar, pois perceberam a súbita chegada do Chefe.

Oduvaldo, com os olhos brilhando de satisfação, parecia estar apenas esperando a chegada do Alberto. Avançou na direção dele, entre sarcástico e ameaçador, e disse, num esgar:

— O que eu queria mesmo era lhe dar uns tapas, seu atrevido. Mas já encaminhei sua demissão para o Departamento Pessoal. Suma-se daqui, Chiquinho insolente!

Abatido, embora esperasse tal represália, Alberto se dirigiu para a área de Recursos Humanos, que, na época, ainda não era conhecida com esta denominação. 

Lá foi recebido pelos funcionários Roque, Durval e Dalva, pois o Chefe, o senhor Edson, ainda não havia chegado. Foi consolado em razão da demissão havida, porém eles anteciparam que nada poderiam fazer, pois Alberto era um empregado muito recente e que, por assim dizer, ainda se encontrava numa fase de experiência.

Foi então que Roque teve uma ideia:

— Alberto, todos nós sabemos que o motivo da sua demissão foram os ciúmes do “chefe dos boys” em razão do seu sucesso como enxadrista, principalmente depois da sua vitória contra o Diretor da Auditoria. Oduvaldo se sentiu ofuscado, pois gosta de ter os boys debaixo da asa. – e prosseguiu:

— Eu acho que você deveria ir conversar com o Doutor Floripes e dizer que está sendo demitido por causa dele!

Dalva e Durval anuíram com a sugestão e encorajaram o ”boy da Barra Mansa” a tomar aquela iniciativa. Alberto refletiu um pouco e achou que, embora estivessem carregando nas tintas, o motivo era aquele mesmo: afinal, Oduvaldo se irritara exatamente porque, sem sua permissão, ocorreu uma partida de Xadrez entre um subordinado seu e o poderoso Diretor da Auditoria.

Uma vez na antessala do gabinete do Doutor Floripes, a Secretária Helga estranhou que Alberto lá entrasse sem estar empurrando o carrinho de café, ou sobraçando alguma encomenda. O boy explicou que estava demitido e que gostaria de se despedir do Diretor da Auditoria, o responsável indireto pela sua demissão.

Helga, ao ouvir aquilo, pegou o telefone, falou rapidamente com o seu Chefe, e, após pedir para o Alberto aguardar, entrou no gabinete. Muitos minutos depois ela saiu e disse:

— Alberto! O Doutor Floripes já conversou com algumas pessoas e pediu para que você vá para a sua casa e retorne amanhã, se apresentando diretamente no Departamento de Pessoal.

O ”boy da Barra Mansa” não entendeu nada do que estava acontecendo, e, portanto, não tinha a menor ideia de quais seriam as pessoas com quem o Diretor teria conversado. Mas acreditou que uma força maior o ajudaria.

Na manhã seguinte se dirigiu à administração do Pessoal e, quando foi visto pelo Roque, recebeu um aceno para que entrasse rapidamente. 

Alberto cumprimentou a todos e, sem entender a razão, foi apressadamente encaminhado ao gabinete do Chefe do Departamento, o senhor Edson, que o recebeu sorridente, lhe deu um abraço, e anunciou:

— Parabéns, Alberto, você foi promovido para Auxiliar de Escritório! Durval e Dalva estão encarregados de lhe instruir quais serão as suas novas tarefas. Boa sorte!




Consta que foi a promoção mais rápida que aconteceu nos anais do Grupo Votorantim...





Oficial R/2 de Cavalaria
Advogado
Enxadrista


terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Sensação Tranquila e Serena


Live in Detroit - 13/10/2023

Live on Don Kirshener's Rock Concert on ABC TV - 13/04/1974
Sensação Tranquila e Serena
Canção dos Eagles

Letra

Eu gosto da maneira como seus brincos cintilantes repousam
Contra a sua pele tão bronzeada
E eu quero dormir com você na noite do deserto
Com bilhões de estrelas ao redor
Porque eu tenho uma sensação tranquila e serena
E sei que você não me decepcionará
Porque eu já estou de pé
No chão

E descobri há muito tempo
O que uma mulher pode fazer com a sua alma
Ah, mas ela não pode te levar de qualquer maneira
Você já não sabe como ir
E eu tenho uma sensação tranquila e serena
E sei que você não me decepcionará
Porque eu já estou de pé
No chão

Eu sinto que posso te conhecer
Como amante e amigo
Essa voz continua sussurrando no meu outro ouvido
Me diz que eu posso nunca mais te ver
Porque eu tenho uma sensação tranquila e serena
E sei que você não me decepcionará
Porque eu já estou de pé
Eu já estou de pé
Sim, eu já estou de pé
No chão

Fonte: LyricFind
Compositores: Jack Tempchin
Letra de Sensação Tranquila e Serena © Royalty Network, Songtrust Ave, Warner Chappell Music, Inc

Peaceful Easy Feeling
Song by Eagles

Lyrics

I like the way your sparkling earrings lay
Against your skin so brown
And I want to sleep with you in the desert night
With a billion stars all around
'Cause I got a peaceful easy feelin'
And I know you won't let me down
'Cause I'm already standin'
On the ground

And I found out a long time ago
What a woman can do to your soul
Aw but she can't take you any way
You don't already know how to go
And I got a peaceful easy feelin'
And I know you won't let me down
'Cause I'm already standin'
On the ground
I get this feelin' I may know you
As a lover and a friend
This voice keeps whisperin' in my other ear
Tells me I may never see you again
'Cause I get a peaceful easy feelin'
And I know you won't let me down
'Cause I'm already standin'
I'm already standin'
Yes, I'm already standin'
On the ground

Source: LyricFind
Songwriters: Jack Tempchin
Peaceful Easy Feeling lyrics © Royalty Network, Songtrust Ave, Warner Chappell Music, Inc

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Weaponization of fanaticism — the real reason why leftists love Islam

 

Bob Livingston Alerts

In my recent article on the suspicious nature of the Israeli/Palestinian conflict I noted that, just as with Ukraine, the establishment is seeking to lure Americans into supporting one side or the other despite the fact that neither side is really worth fighting for. It is a classic destabilization and globalization strategy reminiscent of WWI. Whenever Americans begin to rally around their own culture, their own security and seek to solve their own problems, suddenly another foreign conflict arises which for some reason requires us to intervene.

For many readers, it might not seem like much, but after nearly a decade of woke infiltration and far-left efforts to deconstruct the U.S., there has been a backlash that is now threatening to suffocate the woke movement. BLM is on a steep decline, SJW-infested universities are suffering from dwindling enrollment and lack of legitimacy, woke Hollywood is burning and their profits are collapsing, the trans agenda is finally being obstructed and multiple states are blocking their efforts to target and groom children, and focus has been returning to the dangers of Democrat open-border policies with a majority of Americans now demanding something be done.

The pendulum is swinging back on the political left and "America First" is making a comeback. What is the establishment to do?  What they always do is get the populace trapped in another pointless foreign entanglement. That way our focus on the homefront is diverted, our resources and tax dollars are shipped overseas, and our men are sent to die on alien ground instead of fighting to secure our own borders. As a society we are not allowed to put America first; when we try, we are consistently sabotaged.

Many conservatives will inevitably choose Israel over the Muslims, and for good reason:  The Islamic culture and Sharia ideology are completely incompatible with traditional Western values, and they are a destructive presence in predominantly Christian countries. People will support Israel because it is seen as the "lesser of two evils." Whether or not this is actually true is up for debate and there are plenty of historic incidents which have made Israel a liability more than an ally. Then again, we have all seen what mass Muslim immigration has done to Europe with skyrocketing theft, violent crime, rape gangs and terrorist attacks.

Regardless of what side you might think is "more right" in the current conflict, it's important to understand that Islamic culture sees the West as a ripe fruit to be picked and devoured. They see Westerners as cattle and believe their religion is meant to overwhelm and conquer the West. Hell, the Israelis might think the same way, but they aren't trying to migrate here by the tens of millions.

It is this very mindset of infiltration and subjugation among Muslims that appeals so much to the political left. As we have seen over the past week, there have been numerous mass demonstrations in favor of Palestinians in U.S. cities and the majority of the people involved in these events are NOT Muslims. Rather, they are the same leftist extremists that backed the BLM riots. They are the same people who rage and froth over any attempts to close the southern border. They are the same people who demand gender-fluid indoctrination in public schools. These people are the bulk of the pro-Palestinian protests.

But why? The fact is that Muslim culture despises progressive ideology. If a leftist was to promote any one of their beliefs in an Islamic-controlled nation they would be imprisoned or put to death. Try to teach the trans agenda to kids in a Muslim school and then count the days before you are thrown off a roof or beaten in the streets. There is simply no intersection between western progressives and Islam; so why are they working together?

I would chalk up this bizarre alliance to what you might call "mutual exploitation." The Muslims see the political left as a key to opening doors to the West, a sort of gatekeeper that will wave in any visitor without vetting them first. Leftists are the chink in the armor, the weak point in the fence that Islamic groups take advantage of. But what about leftists?  What do they have to gain from associating with a group that ultimately wants them dead?

Leftists love Islam exactly because it is the antithesis of everything the Western world stands for.

To understand leftists one must understand the foundations of Cultural Marxism. This ideology seeks to sabotage existing cultures and civilizations as a means to create chaos. That chaos is then used as cover to introduce socialist/communist systems as a "solution." In the case of the original Marxists, the strategy was to provoke the working class into rebellion against the wealthy classes. Cultural Marxists use a similar method of instigating civil unrest among the "marginalized" but they focus less on economics and more on social and cultural divisions.

In other words, race, religion, sexuality, etc. are their bread and butter. Leftists (and of course globalists) view minority groups as cannon fodder to be thrown at any given society until it breaks down. Most on the left are mentally and physically weak and even though they are zealots they still know that if they engaged in an outright civil war they would be wiped out within days. They are not capable of competent warfare or revolution on their own. So, they absorb the causes of other groups and then use those groups as enforcers.

In the case of Muslim extremists, the left is salivating because they need fanatical muscle; they need groups of people who are willing to kill for their cause, and Muslim extremists are certainly willing to do that. As conservatives and patriots, we generally do not think in mercenary terms. We believe in fighting our own battles and fighting them with certain principles attached. The left does not think this way. They only care about winning. They only care about power, and they do not care what they have to do to achieve their goals.

The left is working with Islam because they don't have any principles that limit their behavior or morals that restrict them from forming alliances. In the mind of a leftist, Muslim Sharia Law is not a deal breaker because at the moment Muslims are useful to them. That is the extent of the matter. They might regret their decision tomorrow, but today, leftists think they now have access to a new pool of minority muscle that will wreak havoc on the West.

As for the globalists, they hope that the new burst of energy in the woke movement and the implications of a wider war in the Middle East will keep American patriots distracted for many months to come, instead of organizing to secure U.S. borders, the U.S. economy and U.S. heritage.

To truth and knowledge,Brandon Smith

sábado, 25 de fevereiro de 2023

ROTC - Formação de Oficiais da Reserva das Forças Armadas dos EUA

 

O Corpo de Treinamento de Oficiais da Reserva (ROTC) é um programa universitário oferecido em mais de 1.700 faculdades e universidades nos Estados Unidos que prepara jovens adultos para se tornarem oficiais nas Forças Armadas dos EUA.

Em troca de uma educação universitária paga e uma carreira pós-universitária garantida, os participantes ou cadetes comprometem-se a servir nas Forças Armadas após a formatura. Cada ramo de serviço tem sua própria opinião sobre o ROTC.

O ROTC do Exército é um dos programas de liderança mais exigentes e bem-sucedidos do país. O treinamento que um aluno recebe no ROTC do Exército fornece desenvolvimento de liderança, habilidades militares e treinamento de carreira. 

Os cursos acontecem tanto em sala de aula quanto no campo, e são integrados com estudos acadêmicos normais. Programas de verão adicionais, como a Jump School, também podem ser frequentados. Após a conclusão, um graduado do ROTC do Exército é comissionado como oficial do Exército.

GRADUADO NA FACULDADE COMO OFICIAL DO EXÉRCITO

O ROTC do Exército paga suas mensalidades enquanto você vai para a faculdade e o treina para se tornar um oficial do Exército. Oferecido em mais de 1.000 faculdades e universidades, você pode obter a experiência universitária junto com uma carreira garantida após a formatura iniciando como segundo-tenente altamente respeitado do Exército, Reserva do Exército, ou da Guarda Nacional do Exército.

- O ROTC do Exército é um dos principais programas de liderança do país

- Graduado com carreira garantida como Oficial do Exército

- 100% de cobertura de mensalidade, além de outro suporte monetário para livros e custo de vida

- Faz parte do currículo da faculdade e inclui treinamento e experiências únicas







Na sequencia desse artigo comentarei aspectos relacionados com a estrutura de formação de oficiais da reserva e da ativa do Exército dos Estados Unidos da América.
Em breve visitarei os ROTC sediado em College Station e Austin, ambas cidades do Texas, onde são preparados Oficiais oriundos das prestigiosas Texas A&M University e Texas University, respectivamente.

Até a próxima postagem!




Kleber Siqueira
2o. Tenente de Cavalaria - Reserva R2 do Exército Brasileiro

CPOR/SP - Turma de 1970

Correspondente da ABORE nos Estados Unidos da América 




quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

AS PEÇAS DO XADREZ e seu simbolismo

Por Antonino Camelier

Hoje em dia, em qualquer parte do mundo, notamos que as peças do jogo de Xadrez são semelhantes na aparência. Isto se deve ao fato de que, em 1924, a Federação Internacional de Xadrez – FIDE adotou, como padrão, o “modelo Staunton”, conjunto de peças popularizadas pelo enxadrista britânico Howard Staunton (1810-1874).

Vamos falar um pouco sobre cada uma delas e do seu simbolismo.


O Peão

A peça denominada Peão, “Pedone” em Italiano, “Peón” em Espanhol e “Pawn” em Inglês, é a menos valiosa e, isolada, a mais frágil do jogo de Xadrez. Seu significado, desde o primitivo Chaturanga até os dias atuais, sempre foi ligado ao combatente a pé, o soldado, a infantaria militar, a primeira linha de combate.

Movimenta-se sempre para a frente, sendo a única peça que não pode retroceder. Mas esta “coragem” é recompensada: ao atravessar todas as dificuldades do tabuleiro e chegar na oitava casa, o Peão é promovido, podendo se transformar em qualquer peça, exceto o Rei.

Seu simbolismo foi ampliado por volta do Século XIII, quando membros da Igreja, em escritos designados “Moralidades”, atribuíram aos peões as profissões comuns da época, traçando paralelos entre o Xadrez e a ética das atividades humanas, inclusive explicando a regra da promoção do peão como sendo a possibilidade de ascensão social através de um caminho virtuoso e reto. 

Logo, pode-se dizer que a alegoria do Peão sempre carregou aspectos de coragem e determinação, ao lado da simplicidade sócio-econômica passível de se transformar pelo trabalho perseverante.


O Cavalo

A peça denominada Cavalo, “Cavallo” em Italiano, “Caballo” em Espanhol e “Knight” em Inglês, a única que salta sobre as outras, tem o valor aproximado de três peões. A figura deste animal representa, desde tempos imemoriais, a cavalaria de um exército, embora no idioma inglês, desde a Idade Média, tenha designado apenas o cavaleiro.

Seu excêntrico movimento de passar por cima das outras peças, ao lado da característica de atacar sem poder ser atacado pela peça ameaçada, evocava não apenas a capacidade de superar os obstáculos, mas principalmente os atributos da aristocracia.

Atualmente o simbolismo desta peça do Xadrez, aplicado inclusive na Psicanálise, remete ao sonho e à fantasia, pois o Cavalo, ao saltar, parece voar sobre as outras peças.



A Torre

A peça denominada Torre, “Rocco” em Italiano, “Torre” em Espanhol e “Rook” em Inglês, dotada de movimentos unicamente retilíneos, equivale a cinco peões, dado o seu poderio de, sozinha, finalizar uma partida.

No Xadrez primitivo esta peça era um carro de guerra, mas, na Idade Média ganhou a aparência das torres dos castelos, talvez por causa das torres de cerco, uma estrutura com rodas usada na invasão de fortalezas.

O simbolismo marcante das Torres, da época medieval aos dias atuais, é a retidão, por se movimentarem sempre em linhas retas, na horizontal ou vertical.

As torres lembram elementos confiáveis porque, embora demorem a entrar em jogo, quando o fazem é para decidir. Lembram a sensatez e a prudência. Lembram homens justos. Lembram mentores.


O Bispo

A peça nominada Bispo, “Alfiere” em Italiano, “Alfil” em Espanhol e “Bishop” em Inglês, cujo valor aproximado é de três peões, tem seu movimento restrito a apenas 32 casas do tabuleiro (claras ou escuras), pois só se movimenta nas diagonais.

Esta peça, no início, representava o elefante de guerra. No entanto, na Europa medieval, mudou de nome e de formato por influência da Igreja. Surgiu então o bispo, mas curiosamente, em Espanhol, foi mantida uma alusão ao seu nome primitivo, pois Alfil significa “o Elefante”, em árabe.

Quanto ao simbolismo a peça Bispo remete ao lado religioso, mais propriamente no sentido da palavra latina “religare”, que significa “voltar a unir”, ou seja, atar os laços com o que se considera divino, reforçando a busca da dimensão espiritual.


A Dama (ou Rainha)

A Dama, assim denominada em Português e em Espanhol, “Donna” em Italiano, e “Queen” em Inglês, é a peça de maior mobilidade sobre o tabuleiro, movendo-se em linhas, colunas e diagonais. Seu valor aproximado é de nove peões. 

Mas essa peça, com todo esse poderio, não existia nos ancestrais do Xadrez. O lugar da Dama atual era ocupado por uma peça masculina, o Conselheiro do Rei.

Porém, na Europa medieval, a influência de Rainhas como Leonor da Aquitânia (1122-1204), que foi Rainha de França, e, depois, Rainha da Inglaterra, e Isabel de Castela (1451-1504), a Rainha Católica de Espanha, praticamente determinou a presença feminina no tabuleiro de Xadrez, substituindo exatamente “O Conselheiro”.

Já o simbolismo mais evidente da peça Dama (ou Rainha) é a presença feminina no tabuleiro, dantes ocupado por elementos masculinos e indicadores de atividades típicas da guerra.

Quanto ao simbolismo da Dama, sua capacidade de experimentar todas as casas do tabuleiro remete ao CONHECIMENTO do plano. Esse atributo se coloca em contraste com a representação do Rei, que é o PODER. E enseja uma profunda indagação: afinal do que vale Poder sem Conhecimento? Pode ser perigoso, pode ser cruel, pode ser efêmero...



O Rei

Em todos os idiomas, a peça que simboliza o Rei no jogo de Xadrez conservou o mesmo e original significado: o monarca, o soberano.

No antigo Chaturanga a peça representativa de quem conduzia o exército na guerra tinha o nome de “Rajá”, o monarca e comandante. Quando os persas assimilaram o jogo, modificaram o nome da peça principal para “Shah”, que é como designavam o potentado local. E, ao chegar à Europa, levado pelos árabes, o Xadrez teve o nome da peça “Shah” alterado para “Rei”, soberano presente na maioria das nações europeias.  

Sendo a peça mais importante, seu simbolismo evidente é o PODER. Mas, examinando as limitações dos seus movimentos (uma casa apenas, embora em qualquer direção) ficam evidenciadas as suas fragilidades. Depende das outras peças para se proteger e para vencer: sozinho está derrotado, vale dizer, o poder é efêmero.

Em outro ângulo, afirma-se que o Rei é a peça mais importante, porém a Dama é a mais poderosa. 

Contudo há o argumento de que ela poderá ser sacrificada para salvar o seu monarca. Nesta aparente contradição ressalta que o simbolismo da Dama é o CONHECIMENTO: seu sacrifício será sempre útil, pois será para a vitória do reino, e não do rei.

domingo, 4 de setembro de 2022

DUZENTOS ANOS DA INDEPENDÊNCIA — UMA REFLEXÃO


DUZENTOS ANOS DA INDEPENDÊNCIA — UMA REFLEXÃO

Oficial R/2 de Cavalaria
Advogado

Lembro claramente dos festejos do Sesquicentenário, palavra estranha, utilizada para os 150 anos da Independência do Brasil, com base no prefixo latino “sesqui”, que significa “um e meio”.

Corria o ano de 1972 e, mesmo antes daquele “Sete de Setembro”, o ambiente nacional já celebrava o evento com músicas encomendadas, bandeiras e cartazes nas ruas, a par da propaganda do Governo Federal.

Chegamos, agora, ao ano de 2022. Meio século depois, o clima de comemoração é o mesmo?  Há diferenças marcantes! A efervescência social, dentre outros aspectos, parece reviver a década de 1964, com boa parte da população se apegando ao nacionalismo e muitos, inclusive, pedindo intervenção militar. 

Mas, quais seriam as causas dessa aparente volta ao passado? Uma resposta mais ampla está no desagrado da maioria, silenciosa e conservadora, contra uma minoria, barulhenta e esquerdista, que, direta ou indiretamente, comandou a denominada Nova República a partir de 1985.

Não há como negar que, nos últimos trinta anos, o país assistiu, inerte, à decadência de valores morais, com seu tributo à criminalidade, corrupção desenfreada em todos os estamentos, piora na educação e crises institucionais.

E, lentamente, foi sendo revelado que a nação estava sucumbindo ao “gramcismo”, método criado por Antonio Gramsci (1891 – 1937), pensador marxista italiano que pregava, para a “conquista revolucionária do poder”, a utilização do próprio jogo democrático, a par  da subversão, de forma pacífica e constante, dos valores culturais da sociedade ocidental, notadamente a família, a religião, a escola, e a pátria. 

O plano da camarilha socialista brasileira estava caminhando muito bem, porém surgiu um fator inesperado, que mudou o curso dessa história: as redes sociais, uma dádiva da Internet.

Com efeito, embora existente há mais de cinquenta anos, a Internet, sistema de conexões globais que permite o compartilhamento instantâneo de dados entre dispositivos, só chegou ao Brasil nos anos 90. E a primeira rede social, a já esquecida ORKUT, foi lançada no país em 2005, caindo no gosto dos brasileiros de todas as camadas.

Vale notar que o termo “mídia”, dantes mais utilizado na seleção de veículos publicitários, incorporou-se na expressão “mídia social” para definir o espaço ou canal, sites e aplicativos no linguajar corrente, que, via Internet, permitem, entre os seus usuários, a conexão, relacionamento, interação e compartilhamento de conteúdos.

O fato é que os tradicionais meios de comunicação, notadamente televisão e imprensa, que influenciavam os costumes e rumos políticos, começaram a perder peso, progressivamente, diante das mídias sociais mais populares, a exemplo do Facebook, Youtube, Instagram, Twitter WhatsApp e Telegram.

A consequência mais notável disso é que os valores do conservadorismo, até então mantidos na penumbra, com lampejos mais visíveis na atuação dos chamados grupos evangélicos, voltaram a se manifestar, mais precisamente com a surpreendente eleição presidencial, em outubro de 2018,  de um candidato contrário à ordem política-ideológica há décadas no poder.

Mas, que valores são esses, caros à maioria dos brasileiros?

O conservadorismo, como linha de pensamento, enfatiza a estabilidade das instituições sociais tradicionais, a exemplo da família e religião, preservando a ordem, a justiça e a liberdade.

O conservador, nessa trilha, defende usos e costumes, as tradições e suas manifestações culturais, a propriedade privada e o individualismo na esfera econômica, a identidade nacional e os princípios morais da civilização judaico-cristã.

Foi o conservadorismo dos brasileiros que, alavancado pelas mídias sociais e pela brisa de um nacionalismo renascido, pavimentou o caminho para que fosse eleito um governo de direita (conservador). 

Mas a manutenção deste posicionamento político segue precária, vez que o antagonismo do establishment defenestrado está alicerçado em três pilares poderosos: o Poder Judiciário, representado pelo Supremo Tribunal Federal, a imprensa, representada pelos veículos tradicionais, e parte do Congresso Nacional, representada pelos partidos de orientação esquerdista.

Com isso instalou-se uma convivência paradoxal entre, de um lado, um governo pautado pela estabilidade econômica e seriedade administrativa, e, de outro lado, uma insegurança jurídica, com ataques às liberdades individuais, represálias legislativas, e ainda um cenário informativo maliciosamente adverso.

Estamos em 2022, ano da comemoração do Bicentenário da Independência. O progresso tecnológico se alastra pelo país, na velocidade possível. Relevantes obras de infraestrutura são completadas. Contudo, o ambiente revela sua face de afrontas aos direitos fundamentais, opressão e censura, partindo exatamente de quem deveria defender a Carta Constitucional.


Há, até, quem indague se as festividades deste “Sete de Setembro” serão pelos duzentos anos “da independência” ou “de independência”, pois a partícula prepositiva faz muita diferença na análise dos acontecidos.

Isso merece uma reflexão, envolvendo conceitos de liberdade, justiça e a própria ideia de independência.

Antes, porém, vale rememorar, de forma singela, as diferenças conceituais entre Estado, País e Nação. 

Estado é o conjunto de instituições que controlam e administram, de modo soberano e politicamente organizado, uma nação num dado território. País é a região geográfica que coincide com a área de um Estado.

Já para a definição de Nação, grupo humano sui generis, vou me valer das aulas do Mestre Ataliba Nogueira na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco: "é o conjunto dos que se originam da mesma cepa, falam a mesma língua, têm os mesmos usos e costumes, os mesmos sentimentos, as mesmas tradições, as mesmas aspirações, de tal sorte que tudo isto faz nascer a unidade étnica e histórica."

Resta claro que os “nacionais” são os integrantes de uma certa Nação, ao passo que “cidadão” é quem a lei define como tal, “povo” é o conjunto dos cidadãos, e “população” é o conjunto dos habitantes de um certo Estado.

De outro norte, quando lidamos com conceitos abstratos, mas de repercussão concreta no cotidiano, suas acepções invariavelmente são diversas: é o que ocorre com a noção de LIBERDADE e a de JUSTIÇA.

E, no que interessa ao nosso tema, desde logo cabe asseverar que, nos dicionários, LIBERDADE é sinônimo de INDEPENDÊNCIA, ao lado de “autodeterminação” e  “autonomia”.

Recorrendo à etimologia, observe-se que a palavra grega eleutheria significava a liberdade de movimentar o corpo sem restrições por parte de alguém, ou seja, a ausência de limitações e coações, vez que a liberdade era uma qualidade do cidadão, o homem considerado livre na estrutura da polis.  

Em Latim, libertas, derivação de liber (livre), significava a condição do indivíduo capaz de fazer escolhas pela própria vontade, vale dizer, o “homem livre” por oposição ao “escravo”, o subjugado, aquele com restrições na possibilidade de “ir e vir”.

Nota-se, portanto, que desde a Antiguidade a expressão da liberdade era sobretudo política, valor que permanece na atualidade como sendo o conjunto de direitos de cada cidadão, traduzido no poder de exercer a sua vontade dentro dos limites da lei. Assim, o Direito, didaticamente, distribui esse predicado em segmentos, a exemplo das liberdades de opinião, de imprensa e de professar um credo, dentre tantas outras.

Já mesclando-se filosofia e religião, numa profunda síntese, pode-se dizer que liberdade é a possibilidade de realizar escolhas orientadas pela vontade decorrente do livre-arbítrio. 

JUSTIÇA, por outro lado, tem origem no Latim justitia (equidade, administração da Lei), de justus (correto, justo), de jus (direito escrito, lei). Justitia tinha, ainda, os sentidos de exatidão (do peso), bondade e benignidade.

A Justiça é o predicado que corresponde a um estado equilibrado de interação social, razoável e imparcial, preservando os direitos de cada indivíduo pelo respeito aos seus interesses e oportunidades.

Em outras palavras, a Justiça, como princípio mantenedor da ordem social, deve aplicar a lei de forma igualitária entre os cidadãos, proporcionando-lhes os mesmos direitos e garantias.

A Justiça, excludente da barbárie, é o elemento criador e garantidor da Liberdade. Então, sem Justiça a Liberdade fica comprometida! A Justiça, materializada no ordenamento jurídico, é que precede a Liberdade. Reconhecendo isso, o filósofo inglês John Locke (1632 - 1704) afirmou: “Onde não há lei, não há liberdade!

Cumpre falar, agora, da palavra “independência”, substantivo que significa o estado de quem goza de autonomia, de liberdade em relação a algo ou alguém.

Sua forma verbal – “independer” – significa, obviamente, “não depender”, com as acepções de “não estar sujeito a, atrelado a, subordinado a, ou sob a influência de algo ou alguém”.

Com a INDEPENDÊNCIA, a nossa pátria se libertou das amarras políticas em relação a Portugal, desencadeando três surgimentos notáveis: o Brasil como país soberano, única monarquia da América do Sul, e o sentimento da nacionalidade “brasileira”.

Soberania, vale lembrar de forma sintética, é o poder que um país revela ao apresentar total controle, domínio e poderio dentro do seu território. Todavia, mesmo soberanos, todos os países dependem uns dos outros na sua existência nacional.

Mas não é o escopo desta reflexão tratar dos pormenores históricos destes duzentos anos que se comemora. Prefere-se perquirir que grau de independência o Brasil alcançou nestes dois séculos de autonomia. Em outras palavras, que níveis de dependência ainda afligem o país.

O verbo “depender”, dentre outros significados, traduz “sujeição” e “subordinação”. Não há como olvidar, nesse diapasão, que a Proclamação da Independência inaugurou, para a nação brasileira, uma série de “dependências”, sendo que uma delas persiste até hoje.

Com efeito, o processo histórico de separação entre Brasil e Portugal se estendeu até 29 de agosto de 1825, quando, após mediação da Inglaterra, o Reino português acabou reconhecendo a Independência do Brasil através do Tratado de Paz e Aliança, ao custo de uma indenização de dois milhões de libras esterlinas.

Então, a primeira, e ainda vigente subordinação do país, consiste na dependência econômico-financeira ao capital internacional, que teve graves flutuações ao longo da história, sendo certo que o chamado “serviço da dívida”, total de juros pagos e capital reembolsado, muito comprometeu o crescimento do Brasil.

Esclareça-se que a dívida externa brasileira nunca foi paga: apenas as nossas reservas internacionais tornaram-se maiores que a dívida externa, situação que se mantém nos dias atuais.

E, ainda olhando para a atualidade, podemos apontar dependências em relação à entrada e saída de capitais estrangeiros, cujo incompreensível humor costuma afetar as Bolsas de Valores com seu potencial gerador de crises financeiras.

Permanecendo na esteira financeira, outra sujeição do Brasil liga-se ao cacoete de “terceiro mundo” pelo fato de ser um grande exportador de commodities, produtos de origem agropecuária ou de extração mineral, em estado bruto ou com pequeno grau de industrialização, produzidos em larga escala e destinados ao comércio externo. 

Realmente, a dependência se atrela, ora aos humores dos principais importadores dessas commodities, ora às flutuações dos seus preços, que são determinados pela oferta e procura mundiais, ditados por Bolsas de Comércio internacionais.

Há, contudo, dependências que poderiam ser evitadas, caso houvesse, no país, políticas sérias que pudessem ser, de um lado, blindadas contra a corrupção dos favorecimentos, e, de outro lado, ressalvadas das ideologias pseudo-protecionistas. 

Refiro-me à questão dos medicamentos, equipamentos e suprimentos hospitalares, e aos insumos e fertilizantes caros ao agronegócio. A recente pandemia mostrou que país nenhum pode ficar na dependência de outros poucos quando a questão envolve a saúde da sua população. 

Quanto aos fertilizantes potássicos com nutrientes do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), indispensáveis para mantermos o ritmo de maior exportador de produtos agrícolas, sua importação foi comprometida com a guerra entre Rússia e Ucrânia. No entanto, o país só não é autossuficiente porque suas reservas permanecem intocáveis em áreas indígenas, ou de proteção ambiental exagerada.

En passant, poderíamos falar da questão do petróleo e, de novo, da corrupção que frustrou a suficiência no refino de diesel e gasolina. E também de inúmeros outros itens relativos à industrialização, só para dizer que, malgrado sejam produzidos no país, quase toda a tecnologia provém de multinacionais estrangeiras.

Resta comentar uma outra dependência do país no que concerne a um item quase desconhecido, mas de fundamental importância. Trata-se dos semicondutores, materiais fabricados notadamente com silício e germânio e que, pela sua especial resistência para a condução de correntes elétricas, são largamente utilizados na fabricação de componentes eletrônicos (placas e chips).

São eles a  principal matéria-prima para a produção de circuito usados nos aparatos eletrônicos do nosso dia a dia, como automóveis, aeronaves, eletrodomésticos smartphones, videogames e computadores, e inclusive chips de ponta para a indústria aeroespacial e sofisticados armamentos.

Pode-se dizer que tanto um relógio de pulso, um cartão de crédito e uma estação espacial dependem da mesma indústria para continuarem existindo: a de semicondutores.

A fabricação de semicondutores está quase que exclusivamente localizada em Taiwan, e, em decorrência da recente pandemia de Coronavírus, sua produção foi reduzida, causando a “crise dos chips”, interrupção de linhas de montagem na maioria dos setores mundiais da indústria, fato que acarretou a dispensa de um número imenso de trabalhadores, inclusive no Brasil.

Mas há uma luz no fim desse túnel: um governo conservador, que já está resolvendo a crise hídrica do nordeste brasileiro, está preparando as novas bases energéticas da região, com fundamento na energia eólica, de modo a catapultar, em futuro próximo, uma espécie de Vale do Silício tropical.

E não é só: em até cinco anos, o Brasil vai se tornar autossuficiente na produção de trigo, dada a adaptação desse cereal ao solo do Cerrado. E mais: toda a produção agrícola já está se beneficiando da ampliação da infraestrutura de transportes, com novas linhas férreas, melhores estradas e portos revitalizados.

Há, portanto, esperança de transformar as nossas dependências econômico-financeiras em INDEPENDÊNCIA, sinônimo de LIBERDADE, que só pode surgir da JUSTIÇA.

Fica, então, faltando romper a dependência sociopolítica, varrendo de vez os corruptos e os inimigos da Pátria encastelados nos Poderes da República, e repondo, no Judiciário, a estrita observância ao ordenamento jurídico, até porque “Onde não há lei, não há liberdade!”

Enfim, nossa reflexão, às vésperas do Bicentenário da Independência, repousa na palavra LIBERDADE, precioso bem, maior que a própria Vida segundo muitos, vocábulo tão querido dos brasileiros, com lugar cativo nos hinos: “O sol da liberdade em raios fúlgidos” e “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós”.

Finalizo lembrando que os inconfidentes mineiros, para marcar a bandeira da Capitania de Minas Gerais, no final do século XVIII, adotaram uma expressão latina tirada de um verso do poeta romano Virgílio: Libertas quæ sera tamen.

Com isso traduziam: “Liberdade ainda que tardia!” No entanto, para tal bastariam as palavras latinas Libertas quae sera. Isso porque a conjunção adversativa tamen significa “todavia”.

Assim, com as vênias de quem pensa diferente, a bandeira de Minas Gerais, na atualidade, carrega a seguinte frase, na sua tradução literal: Liberdade ainda que tardia, todavia.

Vamos incorporar os sinais dos tempos e tomar esse equívoco histórico como uma advertência, semelhante à que foi feita em 1790 pelo americano John Philpot Curran: “The price of freedom is eternal vigilance!

Ou seja: “O preço da liberdade é a eterna vigilância!”